terça-feira, julho 01, 2008

Kmet Pena

Julián Kmet tinha tudo para dar certo: jovem promessa, internacional nas camadas jovens argentinas e carregando no curriculum lendas sobre um pé esquerdo capaz de manusear um abre-latas para abrir uma lata de suculentos pêssegos em calda. Uma autêntica proto-vedeta do novo milénio. Muito longe, portanto, das trunfas Eskilssianas ou dos bigodes Agatãonescos que marcaram indelevelmente o nosso imaginário e que caracterizaram o ocaso do futebol romântico. Mesmo que “Agatão” e “romântico” na mesma frase possa soar absurdo.


Kmet era um diamante em bruto e portanto foi pago como tal. Afinal, seria um putativo “novo Maradona”. Jogaria exemplarmente pela banda esquerda… mas depois também já jogava com a mesma bitola exibicional pelo meio… e consta que também se ajeitava pela direita. Os corações palpitavam por Kmet. Custou aproximadamente o mesmo, mais milhão, menos milhão, que outra grande promessa acostada na temporada anterior ali perto do metro do Campo Grande, de seu nome Carlos Miguel, esse dispendioso meteoro que cruzou a galáxia futebolística lusa com uma impressionante técnica para aquecer as frias bancadas de betão dos estádios portugueses pré-Euro.

O sucesso foi igualmente semelhante ao do seu comparsa brasileiro. Ambos verdadeiros filósofos da bola, ambos mestres na jogada culta, ambos elegância e souplesse, ambos muito adeptos da primazia mental sobre o bruto esforço físico. Os dois pensavam, teorizavam, dissecavam e matutavam sobre as propriedades do esférico a rolar no rectângulo verde. Paravam no campo e pegavam na pelota, transmutavam-se em Hamlet e o globo de cautchu transformava-se em caveira e perguntavam “Ser ou não ser [jogador], eis a questão”. Enquanto isto, Luís Vidigal & Cia. faziam-se à vida e corriam pela redondinha, eventualmente maltratando-a, mas dando-lhe movimento.

Kmet desesperava sofregamente por uma oportunidade de dar uma aragem de superioridade cerebral dentro de campo. O seu sonho era ministrar uma palestra sobre a beleza poética de uma bola parada em cima de um relvado acometido por uma suave brisa vespertina. Desesperou tanto que o cabelo ganhou madeixas louras – se fosse mais velho, tipo Acosta, ganharia os cabelos brancos da praxe. Mas Mirko Jozic não estava para aí virado, pois Bruno Marioni (aka Giménez) e César Ramirez davam espectáculo nos treinos a fintar cones laranjas, para grande deleite de todo o plantel, excepto para Krpan, que piorava a sua situação ocular perante todo aquele potencial técnico da diabólica dupla sul-americana.

Kmet jogou apenas os mais belos 14 minutos da história do futebol português, plenos de sagacidade e acutilância mental. Era muito pouco para tão grandes aspirações.
Então Kmet voltou para onde tinha sido feliz – o colossal Lanus. Passados uns meses, já com o antipático Jozic fora da nau verde, regressou à terra de Quim Berto para explanar a sua tese de mestrado em futebol amorfo ao dr. Materazzi, célebre por ter incubado um pequeno Frankenstein, Marco de seu nome.
Porém, estava escrito nas estrelas que Kmet, lamentavelmente, não singraria. As mentalidades ainda não estavam suficientemente preparadas para todo aquele arrojo intelectual e desprendimento físico que fazia Pedro Barbosa parecer a locomotiva desenfreada do “Regresso ao Futuro – parte III”.

De Kmet sabemos que exibiu toda a sua vitalidade capilar pelas pampas em clubes como o Estudiantes e o Newell’s Old Boys, com mais ou menos madeixas, mais ou menos movimento. E hoje, com 30 anos, continua a ser dos jogadores mais incompreendidos a ter passado pelo futebol indígena. Incompreendidos ou incompreensíveis, tanto faz.

4 comentários:

Anónimo disse...

Temos que explorar o filão sul-americano dos leões dos meados/finais dos 90's. É um must.

João Loff disse...

"Konadu Kmet Bastos..."
"... ficam as bolinhas de rastos"
"É o engenheiro, carago!"

(texto original do sketch do Herman Enciclopédia)

Anónimo disse...

Fitzx, já que falas no sporting dos 90's não te esqueças do Juskowiac...

eheh

Um abraço e um Hajri para todos...

Ivo

Anónimo disse...

PS: O Kmet nesta foto até parece o Nedved!!

Isto é um desprimor para o blog!

Mas agora até gajos que se parecem com gajos que jogam à bola entram aqui, com direito a pontificar entre M'jid, Tanta, Lula e Tahar "estripador no pouco tempo que se aguentava em campo" O Khalej??

Tou desiludido Fitzx...

ahahah

Um abraço e um Marlon para todos.

Ivo

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